19 de setembro de 2010

Seminário Identidade Regional

Seminário Identidade Regional da Serra Gaúcha como Sustentação para o Design
A busca da identidade regional através de cores, valores, materiais, sabores. Criou-se um Mosaico Cultural, unindo os fatores acima, a fim de incentivar o design regional.
Segundo consta na divulgação do material o estudo tem o objetivo de fornecer informações que possibilitem aos designers e empresas o desenvolvimento de produtos com valor agregado.
Segue minhas anotações durante o evento. Espero que todos aproveitem.
Pronta para o evento

Palestra Trajetória, com Walter Rodrigues
Contou sua trajetória na moda atrás de quadro cronológico de datas, onde cada momento incluiu temas inspiratórios. Imagens de desfiles, co-relacionando com suas respectivas inspirações. Dividiu sua trajetória em cinco temas: AN (antropologia), MF (masculino/feminino), AR (armadura) e Século XIX.
Nas imagens víamos claramente essas temáticas, e que suas coleções transitam entre elas de modo sempre harmônico, e nunca estático.
Dentro do tema Antropologia, Walter busca a raiz, culturas diferentes, povos e seus folclores, observação da natureza e seus ciclos.
Em Masculino/Feminino, os uniformes, a fotografia, o contraste leveza X rigidez, e o jogo preto/branco são o que o inspiram.
Em Armadura o estilista busca os recortes, materiais mais rígidos como o couro, inspirações em Samurais, Van Dyck e Rembrant.
E no tema Século XIX Walter fala da arte e da arquitetura da época. Pintores, escultores, escritores: Degas, Tissot, Toulouse-Lautrec, Boldini, e outros criam coleções com muitos efeitos visuais, enfeites decorativos, bordados, silhuetas sinuosas, mas tudo muito bem pensado e construído.
Walter ainda comentou que no seu processo de criação, sempre começa a pensar no desfile. A partir daí começa a visualizar o todo, a forma, as cores, os detalhes. E destacou muito a importância de “olhar o entorno”, e de que a pesquisa deve ser constante e intensa.

Palestra Moda no terceiro milênio: novos valores, novas práticas, com Ana Mery Sehbe De Carli
Ana iniciou com discurso sobre a divisão da Moda por Gilles Lipovetsky. A partir de então nos situou na década de 1990, com a seguinte questão: de 1990 à 2010, quais foram as mudanças mais importantes?
Em seguida, mostrou um vídeo sobre o ataque as Torres Gêmeas, onde a tela fica preta por um bom tempo, só com som do fato histórico, que depois aparece através da filmagem de pessoas na rua olhando para o que aconteceu, perplexas, chocadas. Em nenhum momento o vídeo mostra o fato em sim, mas sons e depois a imagem do choque das pessoas vendo o que aconteceu.
O que Ana quis demonstrar com esse vídeo era exatamente a reação das pessoas diante do fato que surpreendeu o mundo todo, e que a partir disto muita coisa mudou.
O que a tragédia tem a ver com a Moda? Muito.
A partir deste acontecimento nossa visão do mundo mudou. Tínhamos um modelo de império político/econômico, e este modelo mostrou-se frágil ante um poder maior, que é o poder de destruição. Tudo isto, além das pessimistas estatísticas naturais, nos levou a pensar na Humanidade e seu futuro; a olhar a Natureza e o Planeta com outros olhos.
Hoje nos mostramos mais preocupados conosco, com nosso lugar, com nosso entorno.
Abandonamos O Modelo, para criarmos modelos próprios. Passamos a ouvir termos como Genius Loci (“espírito” ou “talento” local).
O local passou a ser tão importante como o global.
Segundo estudiosos, o pensamento de cada século se divide da seguinte forma:
Século XIX = Liberdade
Século XX = Igualdade
Século XXI = Fraternidade
Estamos fraternos com o mundo e a humanidade. A sustentabilidade passou a ser lema nos quatro cantos do planeta. Mas precisamos pensar nas três dimensões da Sustentabilidade, que são: Econômica, Social e Ambiental. E suas ações, baseadas nos três R’s: Reciclar, Reutilizar e Reduzir.
Ana ainda citou alguns exemplos, na moda, de empresas que trabalham a sustentabilidade: CoopaRooca (Brasil), Manos (Uruguai), Mi Puro (Peru) e o projeto Oficina de Protótipos da Universidade de Caxias do Sul.
Concluiu que, tudo isto trata-se de uma Atitude Ecológica. É o que estamos vivenciando após 20 anos de crises, mudanças, quedas e rupturas. Ela chamou de A Moda da Ética Anunciada, que seria a nova era da Moda, depois da Moda Aberta, A Moda de Cem Anos.
Será que acordamos?

Palestra Memória, Cultura e Identidade com Cleodes Piazza
Persona clássica da cidade de Caxias do Sul, Cleudis é exímia contadora de histórias. Tem uma maneira única, quase teatral de falar, de se expressar. Nos trouxe o lado sentimental do assunto. Quem somos? Qual o nosso DNA?
Falou que uma das principais marcas de nossa região é a capacidade de assumir desafios. Somos Pioneiros: ou se vence ou se morre.
A matriz do povo gaúcho é o fenômeno imigratório, onde diversas culturas diferentes se misturam, se diferem, se igualam.
Discorreu na história da região, contando fatos pequenos, quase sempre esquecidos em meio aos grandes fatos. Falou sobre a importância da plantação de trigo, que foi aproveitada no passado, entre tantas coisas, para a construção de chapéus, bolsas e artigos decorativos.
Falou dos tecelões, do vime, da plantação de linho para fazer sacos que carregavam cereais e toalhas de mesa.
Contou uma história interessante sobre a vinda de freiras francesas “encomendadas” por dois bispos da região, com o objetivo de ensinar as artesãs e tecelãs locais a melhorar a qualidade de seu trabalho, considerado bruto. Vieram também religiosas da Áustria.
Enfim, concluiu: esse é o nosso jeito; nossa mistura étnica constrói nossa cultura.
Nossa identidade? Fazer bem feito. Atenção ao detalhe.

Certamente, Walter Rodrigues saiu encantado com tantas histórias, e com o jeito emotivo e divertido de contá-las. Quem sabe não servirá de inspiração ao grande estilista!

Mas, todas estas palestras tiveram o objetivo de costurar uma trama que levou a palestra final. A apresentação do projeto, idealizado e construído pelas professoras Eliana Rela, da História e Bernadete Venzon, da Moda, e organização de Mercedes Manfredini.
Dois anos de pesquisa com: entrevistas, análise de documentos, observação da rua, das paisagens, dos locais onde visitaram em toda a região. Tiveram contribuição do acervo do Arquivo Histórico.
Criaram uma Viagem Iconográfica: o fazer, o comer, o rezar, o trabalhar. Estes temas nortearam toda a pesquisa, baseados no conceito de Cotidiano de Alfred Schutz: parar de automatizar; inovar.
Como Identidade utilizaram a definição de Giddens (2002): “um conjunto mais ou menos integrado de práticas que um indivíduo abraça, porque dão forma material a uma narrativa particular de auto-identidade”.
Destacaram como sendo da cultura gaúcha o couro, da guarani a cestaria, o trançado, o vime, e da cultura européia a religiosidade e a arquitetura.
Dividiram a pesquisa nos seguintes temas: a Paisagem, a Arquitetura, as Tramas, a Religiosidade, a Gastronomia e as Comemorações.
Uma região, múltiplas histórias em movimento.
Arquitetura: basalto, madeira, alvenaria, acabamentos rebuscados, entalhes na madeira formando “rendas”, autos e baixos/relevos.
Tramas: palhas de milho (Dressa); palha de trigo (Vime); cadeira colonial (Tiririca); rendas, macramês, frivolês; bordados; os trabalhos no algodão como acabamento em lençóis, toalhas e roupas de baixo; ponto-cruz; tecelagem (lã, seda e linho); couro.
Religiosidade: agregar valor, unir pessoas; esculturas, vitrais, pinturas nas igrejas e capelas, metais.
Comemorações: integração, colheita, missas, almoços, festivais. Cada uma com suas cores, suas canções, seus ritos.
Gastronomia: geometrias, cores e texturas.
Espera-se, a partir de agora, que toda a pesquisa possa incentivar a uma “Decodificação para transformar em produto e Originalidade para transformar em lucro” segundo suas próprias palavras.

Belo projeto, e que não pare por aqui. Que se desdobre em criações, invenções, novas pesquisas, seja na área da moda, ou na arte. Temas para inspiração e idéias não faltam.
Este é o nosso local, vamos observá-lo e projetá-lo ao global.

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